Abre a porta devagar.
Atravessa a rua.
Trepa aos ramos matinais.
Solta os pássaros presos.
Se não forem pássaros
serão teus dedos.
Estende as hastes
dos seus rebentos.
Diz o silêncio em vozes
para que te ouça
a multidão em volta.

Acende o teu farol no escuro
Alumia a trémula sombra
das vozes.
De todas as vozes.
Tudo é tempo e arde.
O ar estrangula,
seus venenos rastejam.
O bafo quente
da multidão sufoca
no extremo da estrada.

Solta os pássaros
adormecidos
nas colinas da alma.
Silenciosa não crepita.
Alumia o grão vermelho
de todas as asas.
Deixa-o brilhar
na luta demorada.
Há quem queira só
a tua herança.
Que todos te levem,
Que todos te tragam.

BRUNO PAIXÃO, 25abr2021

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