Lembro-me de Jô Soares contar que um jornalista tinha dito que estava de visita ao seu país a grande escritora portuguesa Sara Mago. O nome presta-se ao equívoco, tal como se presta ao mesmo lapso, vezes sem conta, o nome do escritor Mia Couto. Africano, branco, barbudo e de língua portuguesa, Mia Couto é o pseudónimo de António Emílio Leite Couto. A sua paixão por gatos levou-o a adotar o nome Mia. Nas suas digressões, “é comum ser esperado como preto ou como mulher”, disse ele, confirmando a história de que, certa vez, numa delegação moçambicana em visita a Cuba, Fidel Castro, que tinha prendas para todos os convidados, reservou para Mia colares, brincos e saias, pensando tratar-se de uma mulher. Esta condição não aborrece Mia Couto, antes o diverte.

Divertidas são igualmente as histórias que, verídicas ou não, explicam a origem de alguns nomes mais ou menos conhecidos. É o caso da senhora a quem a mãe pretendia pôr o nome Maria do Amparo. Todavia, o pai, dando uso aos esquecimentos, quando foi para registar o nome, já não se lembrava da recomendação da mulher. Quando lhe preguntaram – ou perguntaram, melhor dizendo –, na atrapalhação, ele disse “prante-lhe Ana, que é o nome da minha avó”. “Prante-lhe” é o mesmo que ponha, ou bote, na expressão popular. E foi por isso que a filha ficou Prantelhana.

Na minha família é contada várias vezes a história de um homem que, pela gratidão ao patrão, deu ao filho o mesmíssimo nome, mas de forma completa, apelidos e tudo. E de outra, de sonhos grandes, desejando o empregado que o seu filho virasse um dia dono da loja, registou-o com o nome exibido no letreiro: Senhor Casa Ford.

Nas minhas idas ao Brasil, tenho reparado na particularidade de transitarem os mesmos nomes de geração em geração, apenas se diferenciando, no final, com “Filho”, ou “Neto”. Assim, o rapaz mantém a condição de ser neto mesmo quando já for avô e filho até quando já não tem pais.

Abundam as Sofias ignorantes, as Olindas feias e as Anabelas desengraçadas. Ou até as Felizbelas, que, mesmo achando-se belas, podem rejeitar a condição de felizes. Ou ainda pior: caso seja infeliz e feia, ninguém se chama Infelizfeia; por bom senso, mantém-se Felizbela.

Nascida no Natal, conheço uma Natalina. Presumo que por ter nascido na Páscoa, um homem se chame Pascoal. E, esperados para o mês de agosto, sei que motivaram o registo de Augustos e de Agostinhos.

Há ainda os casos de registos em que, augurando futuros esperançosos para os seus filhos, os progenitores trataram de lhes dar nomes auspiciosos. Para que tivesse uma vida longa, notável e abundante, a criança nasceu sendo Amazonas Rio do Brasil. Outro, esperando-se dele que conquistasse, imperasse e fosse protegido pela divindade, ficou Napoleão Bonaparte Príncipe dos Santos. Ou, tratando-se de registar a vantagem da progenitora sobre outra mulher pretendente ao mesmo homem, a filha saiu Vitória.

Conta-se, não sei se com verdade ou não, que Camilo Castelo Branco, numa verrinosa resposta a um literato brasileiro que havia encarregado alguém em Portugal de lhe chegar a roupa ao pelo, para dirimir uma polémica, respondeu no mesmo jornal: “O senhor António da Silva Filho deputa e delega no senhor fulano de tal a incumbência de me espancar”.

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